PLANEJANDO COMPRAS À VISTA

A sociedade brasileira vive um grande mal atualmente, o famoso 'quanto cabe no bolso'. Enquanto as parcelas do financiamento do carro, adquiridos em 48 ou mais parcelas iguais, da compra de roupa, divididos em até oito vezes no cartão de crédito, estiverem dentro da programação mensal de gastos, o indivíduo vai continuar comprando em suaves parcelas. Ele só pára quando essas suaves parcelas, de tudo o que foi comprado, compromete o pagamento das contas – e alguns, ainda assim, continuam comprando indiscriminadamente. Desta forma nossa sociedade pode ser diagnosticada com imatura do ponto de vista financeiro. O desejo impulsivo de consumir, sem pensar de forma acertada, se o produto desejado é necessário ou não. Assim costumo orientar que duas perguntas devem ser feitas antes de tomar uma decisão na momento da compra.

1. Este produto é realmente necessário?
2. Possuo dinheiro para pagar a vista pelo produto e ainda tentar barganhar um desconto?

Respondendo a tais perguntas é possível se livrar de uma escolha precipitada e futuramente dispendiosa.

Um dos grandes vilões do orçamento e grande gerador de parcelas é o cartão de crédito. Não estou afirmando que ele deve ser abolido das nossas inúmeras formas de pagamento existentes. Mas a ilusão de compra em longo prazo esconde juros altos, que comprometem seriamente o orçamento. Logo comprar a vista e tentar barganhar um desconto sempre é a melhor opção. Mas como planejar a compra a vista e evitar ficar preso aos juros e ao tempo do parcelamento? Como proceder de forma correta?

Para isto dispomos da poupança com uma taxa média mensal de juros de 0,55%. Usando-a com sabedoria é possível conseguir traçar qualquer projeto de compra a vista para um prazo máximo de 2 anos ou 24 meses. Passando desse prazo torna-se inviável poupar. Para projetos acima de 2 anos investimentos no Tesouro Direto são mais recomendados. Mas vejamos um exemplo de como traçar um projeto, para dentro de 2 anos conseguir comprar algo realmente valioso utilizando a poupança.

Atualmente, em média, uma TV 32” custa a vista R$1.200,00. Imaginemos que você deseje possuir uma e não queira financiar, mas sim comprar a vista daqui a 2 anos e ainda tentar barganhar um desconto de 10% na compra, ou seja, R$120,00, ficando o aparelho por R$1.080,00. Para isto vamos contar com a força geradora de juros da poupança de 0,55% ao mês. A grande questão é:

QUANTO DEVO DEPOSITAR MENSALMENTE EM UMA POUPANÇA PARA QUE AO FINAL DE 2 ANOS EU POSSUA A QUANTIA DE R$1.200,00?

Utilizando uma calculadora financeira e os seguintes procedimentos temos:

1.200,00 ……………………...[CHS][FV]

     0       ……………………… [PV]

    24      ………………………..[n]

  0,55     ………………………...[i] 

[PMT] …………………………R$46,91 ……valor dos depósitos mensais

Se multiplicarmos os R$46,91 pelos 24 meses obteremos R$1.125,83. O restante que falta para completar os R$1.200,00 é justamente os juros rendidos pela poupança em 2 anos de aplicação, a saber, R$74,17. Isso é o valor de juros ganhos por você simplesmente por ter paciência e esperar pela compra à vista.

Contando com o valor do desconto de R$120,00 mais os juros ganhos na poupança o total de dinheiro ganhos por você foi de R$194,17. Quase R$200,00 em economia. PERFEITO!

Podemos notar que os ingredientes principais para esta façanha são a paciência e o controle da impulsividade. Onde uma pessoa passa de pagador de juros a beneficiário de juros, fazendo seu dinheiro render mais e melhor. O ato de comprar a vista, além de lhe proporcionar o poder de ganhos nos juros, ainda faz com que você ganhe tempo. Não o desperdiçando em inúmeras parcelas, mantendo-o escravo dos pagamentos.

O negócio é dar um passo de cada vez: se você quiser consertar sua vida financeira, dê uma pausa nas compras parceladas. Reconheço que, para algumas pessoas, extremamente disciplinadas e que gostam de gastar seu tempo gerenciando “x” contas e “y” compras, talvez o parcelamento seja uma opção a se pensar, somente, repito, caso não se consiga a compra do bem à vista com desconto.

Porém, para a maioria das pessoas, interessadas em ter mais tempo livre para fazerem o que gostam, o melhor mesmo acaba sendo a simplificação da vida financeira, que fica infinitamente mais fácil de ser organizada com compras à vista.

Prof. Diomaique Lopes

diomaique@fisica.ufc.br